O que é Amiloidose e o que a causa?
A Amiloidose é um grupo de doenças raras e graves causadas pelo depósito anormal de uma proteína chamada amiloide em diversos tecidos e órgãos do corpo. Essas proteínas, que normalmente seriam solúveis, sofrem uma alteração em sua estrutura tridimensional (mal dobramento), tornando-se insolúveis e formando fibrilas que se acumulam nos espaços entre as células. Esse acúmulo interfere no funcionamento normal dos órgãos afetados, como coração, rins, fígado, sistema nervoso e trato gastrointestinal, podendo levar à falência orgânica e à morte se não for tratada. Existem mais de 30 tipos diferentes de proteínas que podem formar depósitos amiloides, cada uma associada a um tipo específico de amiloidose.
Quais são os principais tipos de Amiloidose?
Os tipos mais comuns de amiloidose sistêmica são classificados com base na proteína precursora que forma os depósitos amiloides. Os principais são:
1. Amiloidose de Cadeia Leve (AL): É o tipo mais comum. É causada por plasmócitos anormais na medula óssea que produzem em excesso cadeias leves de imunoglobulinas mal dobradas. Não é um câncer, mas está relacionada a distúrbios de plasmócitos, como o mieloma múltiplo.
2. Amiloidose por Transtirretina (ATTR): Causada pela proteína transtirretina (TTR), produzida principalmente no fígado. Possui duas formas principais: a hereditária (ATTRh ou ATTRv), causada por uma mutação no gene da TTR, e a “wild-type” ou senil (ATTRwt), que ocorre em pessoas mais velhas (geralmente homens acima de 60 anos) sem uma mutação genética, devido à instabilidade da proteína relacionada à idade.
3. Amiloidose AA (ou secundária): Ocorre como uma complicação de doenças inflamatórias ou infecciosas crônicas, como artrite reumatoide, doença de Crohn ou tuberculose. A inflamação crônica leva à produção elevada da proteína Soro Amiloide A (SAA), que se deposita nos órgãos, principalmente nos rins.
Quais são os sintomas mais comuns da Amiloidose?
Os sintomas da amiloidose são muito variados, pois dependem dos órgãos afetados e da extensão do depósito de proteína amiloide. Por serem inespecíficos, muitas vezes o diagnóstico é tardio. Os sintomas mais frequentes incluem:
- Coração: Falta de ar (dispneia), cansaço extremo, inchaço (edema) nas pernas e tornozelos, arritmias e tontura. O acometimento cardíaco (miocardiopatia amiloide) é uma das manifestações mais graves.
- Rins: Inchaço severo (anasarca), urina espumosa (devido à perda de proteína, chamada proteinúria) e progressão para insuficiência renal.
- Sistema Nervoso: Dormência, formigamento ou dor em mãos e pés (polineuropatia periférica), síndrome do túnel do carpo bilateral, tontura ao levantar-se (hipotensão ortostática) e problemas gastrointestinais (diarreia, constipação).
- Gerais: Fadiga crônica intensa, perda de peso não intencional, língua aumentada (macroglossia, mais comum na Amiloidose AL) e hematomas fáceis, especialmente ao redor dos olhos (“olhos de guaxinim”).
Como a Amiloidose é diagnosticada e quais são os tratamentos disponíveis?
O diagnóstico da amiloidose é complexo e requer uma alta suspeita clínica. O processo geralmente envolve:
1. Exames de sangue e urina: Para detectar proteínas anormais (como as cadeias leves na Amiloidose AL).
2. Exames de imagem: Ecocardiograma e ressonância magnética cardíaca são fundamentais para avaliar o envolvimento do coração. A cintilografia com pirofosfato é um exame específico que ajuda a diagnosticar a Amiloidose ATTR cardíaca.
3. Biópsia: O diagnóstico definitivo é feito através de uma biópsia de tecido (gordura abdominal, medula óssea ou do órgão afetado, como rim ou coração), que é corada com Vermelho Congo e, sob luz polarizada, mostra uma birrefringência verde-maçã característica. Após a confirmação, é crucial identificar o tipo exato de proteína amiloide através de técnicas como a espectrometria de massas.
O tratamento varia drasticamente de acordo com o tipo de amiloidose:
- Para Amiloidose AL: O objetivo é eliminar os plasmócitos anormais. Utilizam-se tratamentos como quimioterapia e/ou terapias-alvo, semelhantes aos usados para o mieloma múltiplo. Em alguns casos, o transplante de medula óssea pode ser uma opção.
- Para Amiloidose AA: O foco é tratar a doença inflamatória ou infecciosa subjacente para reduzir a produção da proteína SAA.
- Para Amiloidose ATTR: Existem terapias inovadoras que visam estabilizar a proteína TTR para que ela não se desdobre (ex: Tafamidis) ou silenciar o gene que a produz no fígado, reduzindo sua quantidade no sangue (ex: Patisiran, Inotersen, Vutrisiran).
Além disso, o tratamento de suporte para gerenciar os sintomas e a falência dos órgãos afetados (com diuréticos, marcapassos, etc.) é essencial para todos os pacientes.